Duas pesquisas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram que a confiança dos consumidores caiu pela quarta vez consecutiva em março tanto no Brasil quanto em São Paulo.
A mesma tendência foi observada no Estado de São Paulo, onde o Índice de Confiança do Consumidor Paulista (ICCP) caiu para 104 em março. Embora tenha se mantido no campo otimista, a pontuação em fevereiro era de 107 e em novrmbro do ano passado estava em 112.
Os dois índices são elaborados desde 2005 e são feitos em parceria com a PiniOn, que ajuda a entidade a obter as respostas de famílias brasileiras e paulistas – a amostra é de 1.711 famílias em território nacional e 817 em São Paulo.
Segundo o economista da ACSP Ulisses Ruiz de Gamboa, o que explica a queda dos dois índices de confiança pelo quarto mês seguida é uma deterioração na percepção da situação financeira e uma piora das expectativas em relação ao emprego e a renda.
Embora os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, venha mostrando que o mercado de trabalho formal segue aquecido e a renda das famílias esteja aumentando, o otimismo das famílias no Brasil e em São Paulo está perdendo força. Nem mesmo a taxa média de desemprego no ano de 2023, de 7,8%, sendo a mais baixa desde 2014 está mantendo a confiança das famílias em alta.
Para Gamboa, essa desconexão dos dados oficiais com a percepção das famílias se deve principalmente à inflação de alimentos. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Os preços dos alimentos consumidos nos domicílios das famílias brasileiras vêm subindo acima da inflação desde outubro do ano passado. E, no acumulado de janeiro e fevereiro, a alta chegou a 2,95% – mais que o dobro da alta de 1,25% do IPCA no mesmo bimestre.
“É percepção das famílias, que pode estar certa ou errada, que está derrubando o nível de confiança. Outros fatores que contribuem são os juros ainda altos e o endividamento das famílias”, diz. “E a inflação ainda está doendo no bolso, principalmente os produtos básicos”, observa Gamboa.
Um dos sinais que o economista aponta que fortalece a análise que a inflação dos alimentos está pesando no sentimento das famílias é o fato de que os dados da ACSP revelam um resultado misto entre as classes sociais. Houve uma queda na confiança das classes C e DE, enquanto as famílias da classe AB experimentaram um aumento. “O aumento no preço dos alimentos impacta mais justamente nas pessoas que têm renda mais baixa”, acrescenta Gamboa.
No entanto, como consequência geral, a redução generalizada da confiança se refletiu na diminuição da disposição dos entrevistados para adquirir itens de maior valor como carro e casa, e também bens duráveis, enquanto a intenção de investir permaneceu estável.
“Não estamos falando que teremos uma crise econômica esse ano, mas as percepções que temos captado das famílias estão caminhando para um lado mais pessimista do que otimista”, conclui o economista da ACSP.