Sempre fico nervosa na hora de pegar avião e tenho uma imaginação fértil, o que não é uma combinação ideal. Viajar por horas em um espaço lotado e com pouco oxigênio me deixa preocupada com todo tipo de coisa. Uma dor de estômago aleatória pode me jogar no mais puro pânico: e se eu passar mal aqui em cima?
Acontece que existe todo um campo de cuidados preventivos com a saúde que se concentra no tratamento de pilotos, tripulações e astronautas: a medicina aeroespacial.
“A tentativa é manter as pessoas saudáveis em um ambiente insalubre”, define Leigh Speicher, internista e especialista em medicina aeroespacial em Jacksonville, Flórida, e presidente da Associação Médica da Aviação Civil.
Perguntei a ela e a outros especialistas quais eram suas melhores dicas sobre como se manter saudável durante esta temporada de viagens.
Ao reservar seu voo
Você pode começar a pensar em sua saúde já na hora de procurar voos, comenta Paulo Alves, diretor-médico de saúde na aviação da MedAire, que fornece assistentes médicos remotos para companhias aéreas, e membro da Associação Médica Aeroespacial. Se, por exemplo, você costuma enjoar no voo, reserve um assento sobre as asas, que é mais estável, disse ele.
E reconsidere sua viagem se estiver com infecção no ouvido ou nos seios da face, diz Alves. Quando você está no avião, explica ele, a congestão pode dificultar o ajuste à mudança da pressão do ar, o que pode resultar em dor, sangramento e até mesmo ruptura do tímpano.
Canais adiados e dores de dente não tratadas podem ser igualmente dolorosos durante os voos, informa Meghan Hatfield, endodontista em Summit, Nova Jersey. Se você notar qualquer dor ou inchaço, comenta ela, faça um exame antes de voar.
Alves acrescenta sua dica número 1: se você não estiver se sentindo bem no geral, evite voar ou converse com seu médico antes. “Em muitos dos ataques cardíacos que vemos acontecer durante os voos, por exemplo”, diz, “as pessoas falam, retrospectivamente, ‘sabe de uma coisa? Eu não estava me sentindo bem antes de embarcar’”.
Ao fazer as malas
Leve todos os seus medicamentos na bagagem de mão, não na bagagem despachada, orienta Alves.
As pessoas costumam se esquecer de fazer isso, nota. “E aí elas têm um problema como uma convulsão ou uma reação alérgica”, comenta. “Mas adivinhe? Seus remédios estão trancados no porão lá embaixo”.
Speicher leva sua própria água a bordo, e não apenas porque é importante se manter hidratado (o ideal é beber 230 mililitros de água a cada hora). Quando há turbulência no voo, os comissários de bordo precisam permanecer sentados, então, você pode ficar com sede por muito tempo.
Você também pode levar saquinhos de chá de hortelã ou gengibre para acalmar o estômago, recomenda Leigh. Se tiver problemas estomacais, peça água quente ao comissário de bordo.
No aeroporto
Evite bebidas carbonatadas com as refeições pelo menos uma hora antes do embarque, avisa Alves.
Fazer uma refeição grande aumenta a chance de engolir ar, ensina ele, e todo esse gás vai se expandir em grandes altitudes. Isso pode doer – às vezes tanto que as pessoas pensam que estão com apendicite, revela.
Antes de embarcar, reserve um segundo para conferir se você tem tudo o que precisa para o voo, como lanches e remédios de venda livre, diz Leigh. Ela se pergunta: O que deixaria esse voo melhor, mais seguro e mais saudável?
Enquanto você estiver no ar
Leigh tenta se movimentar o máximo que pode durante os voos para evitar a trombose venosa profunda, que ocorre quando um coágulo de sangue se forma nas grandes veias profundas do corpo, geralmente na perna. A probabilidade de formação de coágulos é maior quando a pessoa fica sentada por longos períodos de tempo, portanto, levantar pelo menos a cada duas horas é uma boa ideia, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
Você também deve alongar e exercitar os pés e tornozelos enquanto estiver sentado, informa Leigh. “Eu tento fazer isso entre programas de TV, filmes ou capítulos de livros”, conta.
E se quiser escovar os dentes no banheiro do avião, use água engarrafada em vez da água da torneira, que não é potável, informa Leigh.
Quando falei com minha mãe sobre essas dicas, ela me lembrou de um risco à saúde com o qual os passageiros não precisam mais lidar: o fumo. Quando ela era comissária de bordo nos anos 60, os passageiros deixavam cigarros acesos nos braços das poltronas.
“Eu tinha que desviar deles quando andava pelos corredores para que meu uniforme não pegasse fogo”, comentou.
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU