Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, rede que mudou o varejo de livros no Brasil, morreu nesta terça-feira (19), aos 83 anos. A morte foi confirmada à “Folha” por seu filho, Sérgio, que assumiu a direção da empresa depois do pai.
Herz foi responsável por firmar, no coração de São Paulo, uma das livrarias que ajudaram a definir o cenário cultural da cidade nas últimas décadas, palco de inúmeros lançamentos, debates e peças de teatro, além da venda de livros.
O espaço vinha passando por um processo de falência desde o ano passado, após uma década de dificuldades financeiras que levaram a um pedido de recuperação judicial em 2018.
Eva Herz, mãe de Pedro, criou a livraria de forma despretensiosa em 1947, quase uma década depois de chegar a São Paulo fugindo da perseguição nazista. Chamada então de Biblioteca Circulante, ficava na alameda Lorena e tinha o empréstimo como principal atividade.
Para complementar a renda da família, Eva passou a importar livros em alemão para alugar para a comunidade germânica na cidade, sobretudo de expatriados como ela.
O negócio cresceu e mudou de nome para Livraria Cultura em 1969, quando abriu sua primeira loja no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, já com o filho Pedro como sócio.
No seu livro de memórias, “O Livreiro”, escrito em parceria com Laura Greenhalgh e lançado em 2017, Pedro conta que tinha apenas sete anos quando sua mãe se embrenhou pelo universo dos livros. Com 18 anos, foi morar fora e trabalhou numa livraria da Basileia enquanto estudava, ocasião em que conheceu mais de perto o ofício de livreiro.
Depois, foi morar em Londres onde foi locutor da BBC, antes de voltar ao Brasil e dar continuidade ao trabalho da família. Trabalhou por alguns anos na editora Abril, onde ajudou a elaborar o Guia Quatro Rodas.
Pedro se tornaria rapidamente o cabeça do negócio, que assumiu integralmente com a morte da mãe em 2001, e uma figura influente no mercado editorial. No auge da Livraria Cultura, no começo deste século, a empresa chegou a ter 18 lojas em várias capitais, tornando-se uma das principais livrarias do Brasil.
Em 2017, a Cultura comprou a operação da francesa Fnac no Brasil que vendia livros, revistas e eletroeletrônicos e, no ano seguinte, começou a fechar as 12 lojas que a varejista então operava no país.
A Cultura pediu recuperação judicial em 2018 e teve sua falência decretada pela Justiça em fevereiro do ano passado. Por meio de liminar, conseguiu a suspensão do decreto de falência em junho.
Em fevereiro deste ano, o ministro Raul Araújo, do Superior Tribunal de Justiça, negou um recurso da empresa e autorizou a ordem de despejo no imóvel do Conjunto Nacional. Os proprietários alegam a falta de pagamento dos aluguéis desde 2020, totalizando uma dívida de R$ 15 milhões.