Em evento no Palácio do Planalto e diante de dois importantes aliados de Jair Bolsonaro, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, fizeram repetidas menções indiretas à tentativa de golpe de Estado que, segundo a Polícia Federal, foi encabeçada pelo ex-presidente para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ouviram as falas sem reagir ou responder quando chegou a vez deles de ir ao microfone. Lula, por sua vez, preferiu não discursar, encerrando precocemente a solenidade.
A cena ocorreu nesta manhã quando os governos federal, estadual e municipal celebraram contratos de financiamento do BNDES para projetos de infraestrutura e mobilidade urbana de São Paulo.
Ao longo da cerimônia, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conversava amistosamente com Tarcísio, pegando o governador pelo braço e dando risadas, no que era retribuído pelo governador.
O primeiro dar indiretas sobre a tentativa de golpe foi Mercadante. Inaugurando o clima de mal-estar, ele fez referência à informação de que os golpistas liderados por Bolsonaro, segundo a PF, tramaram também o assassinato de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). E atribuiu o fato de o presidente assinar um convênio bilionário com apoiadores de Bolsonaro, mesmo sem citá-lo, à “atitude de respeito e compromisso com o voto popular”.
“Não é fácil para um presidente e vice-presidente que foram ameaçados de morte, de um golpe de Estado que assistimos recentemente, manter a mesma atitude de respeito e compromisso com o voto popular”, afirmou.
Rui Costa seguiu a mesma linha, referindo-se a Lula como “um estadista”. E dizendo que ninguém ali poderia imaginar a tentativa de “captura, sequestro e morte” revelada pelas investigações.
“O senhor mostra mais do que nunca a figura de um estadista que não se abala um milímetro, mesmo com as informações que vêm a tona daqueles qeu tramaram um golpe de estado”, afirmou. “Ninguém neste salão poderia imaginar que alguém teria a coragem de tramar a captura, o sequestro e a morte de um ministro do STF, de um Presidente da República eleito e de um vice-presidente da República eleitos.”
Alckmin, por sua vez, celebrou a democracia e relembrou dos tempos em que foi prefeito de Pindamonhangaba nos anos 1970, durante a ditadura militar.
“Eu quero começar aqui celebrando a democracia. Como é bonita a democracia! Passadas as eleições, os entes federados juntos trabalhando para atingir o bem comum”, disse Alckmin. “Eu me lembrava, sentado ali, do período triste da ditadura no Brasil, onde nós prefeitos éramos separados de acordo com o partido. Triste período já superado. E celebrar a democracia, que é respeito ao povo, grande protagonista das mudanças no país.”
Tarcísio e Nunes não reagiram ou fizeram menção às investigações da PF em seus discursos, limitando-se a comentar as obras. O prefeito elogiou o ministro Jader Filho (Cidades), que é de seu partido, chamando-o de “meu querido amigo”.
O governador, inclusive, chegou a elogiar o Novo PAC, programa encabeçado por Rui Costa. E recusou-se a conversar com a imprensa depois do evento. Ex-ministro de infraestrutura de Bolsonaro, ele prometeu voltar ao Planalto para celebrar parcerias para a construção e ampliação de linhas do metrô e de um túnel ligando Santos ao Guarujá, no litoral paulista.
“Isso mostra a relevância do PAC e a relevância do papel do BNDES, que foi, é e sempre será esse vetor do crescimento”, afirmou Tarcísio.
O evento serviu para celebrar financiamentos da ordem de 10,65 bilhões para obras da linha 2 o metrô paulistano, do trecho norte do Rodoanel, de um trem que ligará São Paulo a Campinas e da compra de ônibus elétricos.