A saída líquida de recursos dos investidores estrangeiros da bolsa brasileira superou os R$ 30 bilhões neste ano. No dia 17 de abril, os não residentes fizeram saques de R$ 3,31 bilhões no segmento secundário da B3 (ações já listadas), levando o déficit anual para R$ 30,69 bilhões e o mensal, para R$ 7,80 bilhões.
Os estrangeiros têm deixado o país principalmente em razão da expectativa por uma postura mais conservadora do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na política monetária dos Estados Unidos. Enquanto no final de 2023 o mercado esperava que a autarquia começasse a cortar as taxas americanas em março e realizasse entre seis e sete reduções ao longo deste ano, agora a aposta majoritária é que o início do ciclo ocorra apenas em setembro, com entre um e dois cortes até o fim de 2024.
Os títulos do Tesouro americano são considerados o investimento mais seguro do mundo, e quando o mercado passa a esperar que eles remunerem melhor, investidores costumam transferir para lá recursos que estavam em países considerados mais arriscados, como o Brasil. A consequente desvalorização do câmbio local, depois de um período de volatilidade baixa, também contribui para a dinâmica de saques.
Analistas da TS Lombard dizem que a combinação entre a valorização do dólar e a diminuição das perspectivas de flexibilização monetária nos EUA os faz questionar a manutenção do apetite por risco em mercados emergentes. Mas notam que os dados macro dos EUA sugerem que a economia está a acelerar em vez de abrandar, o que significa que a valorização do dólar é um sintoma de melhoria do crescimento e a procura dos EUA por exportações de emergentes continuará a melhorar.
“Ao mesmo tempo, o impacto negativo sobre o crescimento global por parte da China e da Europa está diminuindo, oferecendo potenciais benefícios adicionais aos exportadores dos mercados emergentes. Concluímos que o apetite pelo risco dos mercados emergentes permanecerá bem apoiado por enquanto, mas os investidores devem monitorar de perto as moedas que podem ser vulneráveis aos ganhos do dólar, bem como à inflação que atrasa ainda mais a possibilidade de flexibilização monetária”, afirmam.
Apesar da leitura construtiva em termos absolutos, a equipe montou no início da semana uma operação comprada em ações mexicanas e vendida em brasileiras, tendo em vista uma deterioração do cenário doméstico. “Este é um trade tático impulsionado pelo crescimento global e dos EUA e pela dinâmica da inflação e por fatores internos de curto prazo – como interferência política negativa no Brasil e a precificação do resultado das eleições presidenciais do México, que ocorrem em junho”.
Além da interferência citada, que afetou diretamente as ações de Petrobras e Vale, investidores também aumentaram os prêmios de risco dos ativos locais após o governo alterar a meta fiscal de 2025 e em reação ao discurso mais conservador do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
No dia 17 de abril, ele afirmou que, diante da piora dos cenários externo e interno, o Copom pode ter que alterar o seu plano de voo, que apontava para mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic na reunião de maio do Comitê. Mesmo depois da performance negativa no início da semana, os juros registraram movimento adicional de ajuste na sessão.