A mudança na meta de superávit em 2025 deixou no mercado a percepção de que o governo “jogou a toalha” sobre o ajuste fiscal, segundo Mansueto Almeida, sócio e economista-chefe do BTG Pactual.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta semana uma meta de resultado primário zero para o próximo ano, inferior ao objetivo anterior de superávit de 0,5% do PIB. O receio de piora fiscal, combinado às apostas de que os juros permanecerão altos por mais tempo no exterior, levou o dólar a disparar para acima de R$ 5,20, enquanto as taxas de juros futuras passaram a apontar uma Selic acima de 10% no final do ciclo de cortes.
O economista do BTG destaca que a comunicação da mudança foi negativa, ao passar a ideia de que o déficit permanecerá até o final do governo. Isso amplificou a reação dos investidores, segundo ele.
“Como o governo não conseguiu aumentar a arrecadação como queria, ele mudou a meta. A comunicação foi ruim”, diz Mansueto, para quem o governo deveria ter mostrado o que poderia fazer em relação às despesas.
Apesar da forte pressão no mercado, o Brasil ainda não vive uma situação de grave crise, sem volta, pois a atividade forte e a balança comercial sólida dão fôlego ao país. No entanto, é preciso uma resposta no campo fiscal para evitar maior deterioração das expectativas, diz o ex-secretário do Tesouro.
O Banco Central deverá promover novos cortes de juros e levar a Selic até 9,75%, segundo Mansueto Almeida. Esta projeção de juro, contudo, considera um câmbio na casa de R$ 5,00, o que significa que a taxa Selic no final do ciclo poderá ter de ser mais alta se o dólar continuar no nível atual, superior a R$ 5,20.
Além do cenário de juros mais altos no exterior, a atividade forte no Brasil também joga contra as estimativas de um alívio monetário mais acentuado pelo Copom. O BTG elevou a projeção de crescimento este ano de 2% para 2,3%, diante da percepção de vendas no varejo e mercado de trabalho muito fortes.
Segundo ele, tanto no Brasil como nos EUA os bancos centrais acertaram mais do que os mercados, ao adotar desde o início uma postura mais cautelosa, enquanto os investidores apostavam em cortes mais profundos das taxas. “Se a economia continua crescendo, não há pressa em reduzir os juros”, disse o ex-secretário do Tesouro.