O Ozempic (semaglutida) é líder da lista de medicamentos com maior faturamento nas farmácias no Brasil, sendo o grande responsável pela farmacêutica Novo Nordisk ter movimentado R$ 3,7 bilhões no mercado privado ao longo do ano passado. No exterior, as canetas injetáveis indicadas para diabetes tipo 2 — com o uso “off-label” para emagrecimento ainda mais popular — alçaram a farmacêutica ao posto de companhia mais valiosa da Europa, chegando até mesmo a supera o conglomerado de luxo LVMH.
Na outra ponta do efeito dominó, o PIB da Dinamarca, sede da farmacêutica, registrou alta de 1,7% no primeiro semestre de 2023. Não fossem os resultados da Novo Nordisk, o cenário seria de queda de 0,3% da economia, segundo o Ministério da Economia dinamarquês.
Agora, no ramo da publicidade, um hit musical lançado em 1974 voltou a ser cantarolado pelos americanos 50 anos depois, em uma versão ainda mais chiclete que a original — e engordando a conta bancária de um roqueiro de 74 anos.
Essa é a história de David Paton, que fez muito sucesso na década de 70 com a banda Pilot e que viu, graças à caneta injetável, sua conta registrar um valor de sete dígitos de uma só vez.
Sob o crivo da Novo Nordisk, seu verso de sucesso “Oh, oh, oh, it’s Magic” se tornou “Oh, oh, oh, Ozempic”.
No ar desde 2018 nos Estados Unidos, a versão inicial do jingle foi regravada por músicos contratados pela agência que gerenciou a publicidade. Depois, Paton foi chamado para gravar ele mesmo a versão publicitária do hit “Magic”, que assina os créditos de composição com Bill Lyall, cofundador da banda que faleceu em 1989.
A propaganda não é transmitida no Brasil. Por aqui, a Anvisa estabelece que a publicidade de medicamentos para o público em geral só é permitida para os fármacos de venda isenta de prescrição médica. Ozempic é vendido com receita.
Assista a uma versão do comercial com o jingle abaixo:
A escolha não foi por acaso. Jeremy Shepler, que liderou o lançamento do Ozempic nos EUA, revelou em entrevista ao “The New York Times” que buscava uma música que conversasse com a faixa etária alvo do medicamento, algo em torno de 50 e 55 anos.
“A primeira música que criei foi do “New Kids on the Block”, aquela que diz ‘Oh oh oh oh oh”, disse em entrevista, se referindo a “You Got It (The Right Stuff). “Mas o New Kids [banda] era um pouco jovem demais. Então me ocorreu: ‘Oh, oh, oh, é mágico’”, completou.
Paton, Sony Music Publishing e Novo Nordisk se recusaram a discutir os termos financeiros do acordo. Três executivos da indústria musical disseram ao “NYT” que, provavelmente, o acordo valia sete dígitos para Paton, ou seja, pelo menos US$ 1 milhão.
O Valor tentou contato com Paton e com a Novo Nordisk EUA, mas não obteve sucesso até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
Essa não é a primeira vez que “Magic” é usada em um comercial. Antes, para a Coca-Cola, Paton cantou: “Coke, Coke, Coke, it’s Magic”, nos anos 70”. Também fez uma versão para o filme da Disney “Herbie: Fully Loaded” em 2005 e serviu como sample para o single de Flo Rida de 2009, também chamado de “Magic”. “As pessoas sempre querem usar a música de uma forma ou de outra”, disse Paton ao NYT.
Questionado se ele estava incomodado com a associação de sua música com o que acabou sendo um pararaios de propagandas, ele sorriu e balançou a cabeça. “Fiquei encantado. Eu sou um compositor. Quero vender minha música. Muita gente não conhece o nome Pilot, mas conhece a música do Ozempic”, declarou ao jornal.