Em março de 2000, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, estava entre os perueiros que jogaram o então prefeito de São Paulo Celso Pitta (1946-2009) para o alto para comemorar o alvará temporário que autorizava o até então transporte clandestino na cidade.
Naquela época, ele tinha apenas detenções por dirigir Kombis abarrotadas de passageiros pelas ruas da cidade.
Depois de 24 anos, Pandora foi uma das quatro pessoas ligadas a duas empresas de ônibus presas durante a Operação Fim da Linha do Ministério Público paulista que investiga esquema de lavagem de dinheiro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Dono da Transwolff, responsável pelo transporte de 700 mil passageiros em 90 linhas que circulam pela zona sul de São Paulo, ele trabalha na empresa há quase dez anos.
Antes disso, ele atuou por 13 anos na CooperPam, uma cooperativa de transporte urbano com 1.350 filiados que foi incorporada a Transwolff em 2015.
A cooperativa era formada por ex-perueiros, como eram chamados os operadores do transporte clandestino na capital paulista, até 2003, quando foi criado o Sistema Interligado e os cooperados saíram da clandestinidade. O sistema dividiu o município em oito áreas que passaram a ser servidas por ônibus de diferentes cores, de acordo com a região.
De acordo com o Ministério Público, dirigentes da cooperativa chegaram a ameaçar os cooperados para transferir o controle da CooperPam para a Transwolff, ou TW.
A Transwolff Transportes e Turismo Ltda foi aberta em 1987 pela mulher de Pandora, Helena Cristina Reis Magela. Três anos depois, ela transferiu o controle para o marido.
A partir de então, segundo a investigação do Ministério Público, Pandora se tornou um dos principais aliados do PCC, tanto para lavar dinheiro por meio de sua empresa quanto para agir nos bastidores para libertar um preso da facção criminosa.
Em 2006, então presidente da CooperPam, Pandora foi preso sob a acusação de ter financiado a tentativa frustrada de resgate de Nivaldo Eli Flausino Alves, irmão de Branco, líder do PCC à época, na Cadeia Pública de Santo André.
Em depoimento, ele negou participação na ação, mas admitiu que a facção criminosa estava infiltrada entre os perueiros. A Justiça, então, concluiu não haver provas e o inquérito foi arquivado.
Nos anos seguintes, segundo as investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que duraram cinco anos e foram incluídas no relatório da Promotoria, Pandora atuou de forma fraudulenta para aumentar o capital social da Transwolff.
Procurada sobre as novas acusações, a empresa não respondeu. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Pandora.
O Ministério Público aponta que em 8 de dezembro de 2014 o capital da Transwolff era de R$ 1 milhão, sendo R$ 900 mil de Pandora e R$ 100 mil do sócio, Moisés Gomes Pinto. Em 2015, uma alteração contratual incluiu a empresa MJS participações Ltda —criada no ano anterior— como sócia ao lado dos dois. Mas em janeiro de 2019 a MJS foi encerrada.
Nesse período, o capital social da Transwolff foi alavancado para R$ 55 milhões, capacitando-a para concorrer na licitação para o transporte público aberta pela SPTrans naquele ano.
O problema, que levantou suspeita dos investigadores, foi a origem dos R$ 54 milhões incorporados pela MJS. O Gaeco confirmou que o montante de R$ 22.952.000 surgiu por meio de pequenos depósitos em dinheiro vivo e sem origem declarada, crime conhecido como “smurfing”.
Além disso, supostos empréstimos no valor de R$ 3.994.000 teriam sido contraídos num mesmo dia por 88 pessoas físicas e jurídicas ligadas ao mesmo grupo econômico comandado pela Transwolff, das quais 39 eram ou se tornaram funcionárias da empresa.
“Em conclusão, o denunciado Luiz Carlos Efigênio Pacheco, com o concurso dos demais denunciados, usava a Transwolff, empresas individuais abertas por seus funcionários e a MJS participações Ltda para dissimular a origem do dinheiro do crime de organização criminosa na compra dos ônibus e na capacitação da TW para a licitação”, afirma a denúncia.
Outro detalhe que chamou a atenção dos investigadores foi que Pandora, apesar de gerir uma empresa de R$ 55 milhões, possuía muitas dívidas com impostos, taxas atrasadas de condomínio, mensalidades escolares, salários de funcionários e outras dívidas financeiras.
“Ou seja, uma situação fática que evidenciava a total indisponibilidade financeira do denunciado para a realização de investimentos multimilionários na Transwolff ou mesmo em sua sociedade holding”, argumentou o Ministério Público.
Pandora acabou sendo denunciado por apropriações indébitas em razão da atividade empresarial, extorsão, organização criminosa conexa com o PCC, receber e converter dinheiro ilícito em ativos lícitos, utilizar os valores na atividade econômica e crimes cometidos por intermédio de organização criminosa.