Israel realizou um ataque aéreo à cidade de Isfahan, no Irã, na noite de quinta-feira (18), em resposta a uma ofensiva iraniana anterior, do último sábado, que lançou drones e mísseis em direção ao território israelense. Ambas manobras militares marcam os primeiros ataques armados diretos na história do conflito entre os dois países, que são inimigos declarados há décadas.
No ataque anterior, do fim de semana passado, o governo israelense disse que 99% dos drones e mísseis iranianos foram interceptados pelo Domo de Ferro, o sistema de defesa militar do país. Esse, por sua vez, foi uma resposta à ofensiva de Israel à embaixada de Teerã em Damasco, na Síria, no início do mês.
Em primeiro de abril, um ataque aéreo na capital síria destruiu parte da embaixada do Irã no país. A investida foi atribuída ao exército israelense, que não assumiu a autoria. Na ocasião, sete oficiais foram mortos, incluindo dois generais da Guarda Revolucionária, força de elite do Irã.
A tensão entre os países vinha aumentando desde o dia 7 de outubro do ano passado, início da guerra entre Israel e o Hamas — grupo paramilitar terrorista que tem relações com o governo iraniano.
Desde então, Israel tem realizado uma série de ataques para erradicar o grupo terrorista. As respostas militares registraram os assassinatos de numerosos comandantes iranianos de alto escalão, bem como comandantes do Hamas.
Há anos o Irã trava um conflito velado com Israel através de uma rede de representantes no Iraque, na Síria, no Líbano e no Iêmen, evitando uma guerra em grande escala.
Como começou o conflito entre Irã e Israel?
O início das tensões entre os países data do ano de 1979, após a revolução islâmica no Irã, segundo explica Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da UERJ.
Em 1953, os Estados Unidos, com apoio do governo britânico, conduziu a operação Ajax no Irã, que levou ao golpe do primeiro governante iraniano eleito democraticamente do país, o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq. Com isso, os americanos restauraram a monarquia no país, com a ascensão do xá Mohamed Reza Pahlevi.
Nesta época, os EUA também tinham uma relação próxima com Israel, uma vez que apoiaram a criação do estado israelense. Considerando a amizade dos governantes dos países com os americanos, a relação entre ambos também era pacífica.
“Se a gente for olhar o que está acontecendo agora, o início se dá nos ataques de outubro entre Israel e Hamas, mas o verdadeiro início foi em 1979, com a revolução islâmica. Antes, o xá [antigo monarca do Irã] havia uma relação mais próxima com Israel. Ambos os países tinham inimigos em comum: os revolucionários islâmicos”, explica.
Após a revolução islâmica, o país passou a ser comandado por Ruhollah Musavi Khomeini, mais conhecido como aiatolá Khomeini, que deu origem a um regime que utilizou a oposição a Israel como parte fundamental da sua ideologia. “Após a revolução, a presença de Israel era considerada um plano de vigilância do Ocidente, algo que os aiatolás eram extremamente contra”, disse o professor.
O Irã não reconhece o direito de existência da nação de Israel e quer sua erradicação. Os governantes iranianos se referem a Israel como o “pequeno Satanás”, o aliado no Oriente Médio dos Estados Unidos, que, por sua vez, chamam de “grande Satanás”.
Desde então, a relação dos países foi se deteriorando, mas nunca a ponto de ataques diretos — isso, pelo menos, até sábado, com o ataque iraniano ao território israelense. Santoro comenta que o Irã sempre enfrentou Israel com ataques indiretos, por meio de seus aliados.
Quem são os aliados do Irã?
Santoro pondera que, dentre os aliados do Irã, há principalmente grupos políticos, que não necessariamente atuam como chefes de estado, como os Houthis no Iêmen, o Hamas, na Palestina e o Hezbollah, no Líbano, além do governo sírio.
“O Irã tem construído essas alianças desde a revolução islâmica, procurando estimular a criação de grupos que defendam sua agenda política-religiosa. Por exemplo, o Irã foi decisivo na criação do Hezbollah, no contexto da guerra civil do Líbano (1975-1990). Em geral essas alianças se dão com base em grupos xiitas, a corrente minoritária do Islã que é, contudo, a maioria no Irã. Mas também podem ser construídas só com base na política, como no caso do Hamas (que é sunita), a partir da oposição ao inimigo comum, Israel”, explica.
Santoro ainda pontua que o apoio de outros países árabes não é algo certeiro, principalmente por conta da aproximação diplomática entre Israel e vários países árabes, como Catar, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Arábia Saudita.
“Uma das novidades que vimos no fim de semana foi um nível de cooperação militar inédita entre Israel e alguns países árabes, como a Jordânia e a Arábia Saudita, trabalhando juntos para abater drones e mísseis do Irã. O país terá o apoio de alguns aliados árabes como Hamas, Hezbollah, Houthis e da Síria. Mas outros países árabes irão ajudar Israel, de maneira mais ou menos discreta”, disse.
Quem são os aliados de Israel?
Santoro explica que o principal aliado de Israel, em termos diplomáticos, econômicos e bélicos, são os Estados Unidos.
O presidente americano Joe Biden teria advertido ao premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que Washington não participará de nenhuma ação ofensiva contra o Irã, segundo reportou a TV “CNN” americana no sábado. Biden teria, inclusive, tentado dissuadir Netanyahu de uma nova retaliação em uma ligação telefônica de 25 minutos, conforme o “The Guardian”.
Além disso, Santoro adiciona que os países europeus também podem ser considerados aliados de Israel, mas não na mesma medida que os Estados Unidos, através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança militar ocidental formada por 32 países no total.
*Estagiário sob a supervisão de Diogo Max