No fim de 2020, quando lançou ao mar o segundo submarino construído em Itaguaí (RJ), a Marinha brasileira esperava concluir três anos depois a primeira série de quatro embarcações fruto de uma parceria com a França.
O terceiro submarino da série, Tonelero, porém, só foi ao mar nesta quarta-feira (27), 15 meses após a previsão feita naquela época e, ainda assim, ainda em fase de testes antes de começar a operar. O quarto, Angostura, está em obras e deve ficar pronto para navegar apenas em 2025.
As quatro embarcações são parte de um programa batizado de Prosub, iniciado com a assinatura da parceria com o governo francês em 2008, com um orçamento previsto de R$ 40 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA.
Além dos quatro submarinos convencionais, com motor diesel-elétrico, o programa prevê a construção de um submarino com propulsão nuclear. Para a tarefa, o consórcio formado pela então Odebrecht (hoje Novonor) e pela francesa Naval Group construiu o estaleiro na região metropolitana do Rio.
No lançamento da segunda embarcação, em 2020, a Marinha já reclamava de restrições orçamentárias no programa. Nesta quarta, o comandante da força, almirante Marcos Sampaio Olsen, reforçou as queixas e falou em “potencial de danos relevantes à pesquisa científica, à geração de emprego e renda”.
Presente ao evento nesta quarta, o presidente Lula defendeu a ampliação da cooperação internacional militar entre os dois países para ajudar o Brasil a “conquistar maior autonomia estratégica diante os múltiplos desafios que a humanidade se depara nesse século 21”.
Pelo planejamento original, o primeiro submarino a propulsão nuclear brasileiro, batizado de Álvaro Alberto, entraria em obras logo após a entrega do Angostura, em dezembro de 2022, mas o prazo não foi cumprido novamente.
A principal diferença entre uma embarcação convencional e outra nuclear é a autonomia e o tempo em que ela pode permanecer submersa —o que dificulta sua detecção. Enquanto os primeiros precisam retornar à superfície periodicamente, praticamente não há limite de tempo para os nucleares.
Hoje, só os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU —Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido— e a Índia, que não é signatária do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), detêm essa tecnologia.
Na sexta (22), o Itamaraty afirmou que o governo do Brasil está em conversas com a França para que o país europeu coopere inclusive na parte do combustível nuclear do submarino Álvaro Alberto.
Hoje, a cooperação se limita a auxílio para o design do casco do submarino de propulsão nuclear –mas não a tecnologia para acomodar o reator (que o Brasil sabe fabricar) dentro do casco e fazer com que ele conecte e forneça energia até a propulsão.
A negociação sobre o tema, porém, é delicada porque os Estados Unidos se opõem à venda dos equipamentos e transferência de know-how que levem a um cenário em que o Brasil alcance a capacidade de operar submarinos de propulsão nuclear.
A Marinha disse, em nota distribuída nesta quarta, que os dois primeiros submarinos, Riachuelo e Humaitá, foram entregues ao setor de operações, respectivamente, em 2022 e 2024. Não informou a previsão do início de operações do Tonelero.
O programa foi criado com a justificativa de proteger a Amazônia Azul, como é chamada a costa continental brasileira. Submarinos, diz a Marinha, “possuem alta capacidade dissuasória por serem armas letais de difícil localização quando submersos”.
“A possibilidade da presença de submarinos em uma área marítima obriga uma força naval oponente a mobilizar muitos meios e esforços para a localização e o combate a essas embarcações furtivas”, afirmou, também em nota.
Em outra linha de defesa do programa, a Marinha diz que as obras priorizam a aquisição de bens e serviços no país, fomentando o desenvolvimento das indústrias brasileiras nas áreas de defesa, mecânica, eletromecânica, química e naval.
“Desta forma, colabora para o crescimento econômico do país, bem como para a geração de 22 mil empregos diretos e quase 40 mil indiretos”, disse, reforçando que a transferência de tecnologias permitirá que o Brasil projete e construa seus próprios submarinos.
“O arrasto tecnológico, proporcionado pelo desenvolvimento e aprimoramento das tecnologias embarcadas no submarino, estimulará não só a área de Defesa, mas também setores nacionais civis nos campos de Ciência, Tecnologia e Inovação”, concluiu.