Após cinco altas seguidas, o setor privado perdeu espaço na indústria da construção em 2022, ante 2021, mostra a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic) 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi a primeira vez que isso ocorreu após cinco anos de alta e de uma tendência de mais longo prazo de aumento dessa fatia. A participação era de 59,7% em 2007, o primeiro ano da série histórica da pesquisa, e de 66,3% em 2013, dez anos antes de 2022.
Na passagem entre 2021 e 2022, houve aumento do valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção tanto no setor público quanto no setor privado, segundo o analista da pesquisa, Marcelo Miranda. O ritmo, no entanto, foi maior no setor público, o que fez esse aumento de representatividade entre os 26,1% de 2021 e os 30,2% de 2022.
“O valor de obras demandadas pelo setor público aumentou mais que o valor das obras no setor privado. E isso foi puxado por infraestrutura”, afirma.
Nesse segmento, a fatia do setor privado, que era de 58,1% em 2021, despencou para 51,9% em 2022. Por consequência, o setor público ampliou sua participação de 41,9% para 48,1%, respectivamente. É o segmento da indústria da construção com maior engajamento do setor público.
Mas houve queda do setor privado também nos outros dois segmentos: de 82,9% para 79,6% na construção de edifícios, respectivamente, e de 80,7% para 79,8% em serviços especializados para construção – que são os chamados serviços acessórios, para além de atividades principais como muros e construção das vigas, como preparação do terreno e instalações elétricas, por exemplo.
Questionado sobre uma possível influência do fato de 2022 ter sido ano de eleição, Miranda diz que não dá para confirmar essa relação. “Não dá para saber se isso se deve às eleições de 2022”, afirma.
O comportamento do dado em 2022 veio na contramão da tendência observada nos anos anteriores, de alta dessa participação do setor privado no setor de construção. Esse movimento reflete, segundo Miranda, o avanço das Participações Público-Privadas (PPPs).
“A gente percebe mudança na forma como ocorrem os financiamentos, principalmente de obras de infraestrutura. Antes, o governo fazia muitas obras por conta própria, era o principal no setor. Mas as PPPs vêm ganhando participação ao longo dos anos”, explica.